Hospital de Campanha – Uma auditoria feita pelo corpo técnico da secretaria municipal de Saúde mostra que o Hospital de Campanha do Riocentro, administrada pela antiga gestão municipal, registrou irregularidades e teve a maior taxa de mortalidade de pacientes com coronavírus entre as unidades provisórias da cidade.
Segundo o levantamento, a unidade teve disparadamente a maior taxa de óbitos de pacientes em UTIs (66%) e também a maior dos que foram internados em enfermaria (25%) – ligeiramente superior aos 23% do Hospital do Maracanã.
Porém, ao comparar com as unidades que foram instaladas e geridas pela iniciativa privada (e com todas as vagas reguladas pelo SUS), uma taxa de mortes no Riocentro foi bem superior. Apesar do hospital do Leblon ter admitido três vezes mais pacientes para internação em CTI, a unidade do Riocentro teve somente dois óbitos a menos.
Taxa de letalidade em CTI dos Hospitais de Campanha
- Leblon – 24%
- Parque dos Atletas – 25%
- Maracanã – 53%
- Riocentro – 66%
Os técnicos também analisaram o prontuário de 10% das mortes ocorridas na unidade para revisar todos os procedimentos e condutas profissionais realizados, bem como a qualidade das informações das declarações de óbitos. Foram escolhidos aqueles óbitos que precisam de informações complementares, foram causados por “eventos adversos” ou não foram justificados proporcionalmente a cada um dos nove meses de funcionamento da unidade e de faixas etárias com menos comorbidades.
No relatório, os auditores apontam que foram constatados “eventos sentinelas”, como os casos de “um paciente acidentalmente extubado com interrupção da regulação mecânica, um transporte inseguro com consequente dessaturação do paciente, um acidente de intubação com lesão traqueal e uma queda com politraumatismo”.
“A análise de eventos é fundamental, pois pode contribuir para identificar o motivo do óbito, o entendimento e a tratativa do evento gera a correção dos fluxos e prevenção de novos episódios. Não foi identificada descrição desta análise nos documentos disponibilizados ”, acrescentou.
No dia 1º de janeiro, segundo o documento, a Subsecretaria de Atenção Hospitalar, Urgência e Emergência realizou visita técnica no Hospital de Campanha Riocentro. Durante a realização, a equipe técnica “foi surpreendida por pacientes solicitando apoio assistencial, inclusive para realização das necessidades básicas”. Um dos pontos negativos apontados pela auditoria de uma arquitetura do local, que era de corredores longos com pacientes não agrupados, dificultando “o trabalho das equipes assistenciais, prejudicialidade no desempenho clínico e, ainda por fim, no cuidado assistencial”. O documento ainda informa que luzes da unidade não eram apagadas à noit, dificultando o ciclo de sono dos pacientes, além de um suicídio ter acontecido na unidade por um paciente que não foi visto saindo de seu leito.
“As diferentes alterações verificadas no HCAMP Riocentro inerentes a uma arquitetura provisória, além da disposição de ambientes e mobiliário de maneira irracional, 23 dificultaram a implementação das boas práticas assistenciais, de cuidado humanizado e de segurança do paciente, o que, além do relatado supra , resultou ainda em um caso de suicídio de paciente que não foi visto evadindo do leito ”
Ministério da Saúde negou financiar leitos
Em meio a alta casos de Covid-19 que culminou na segunda onda da doença na cidade, uma prefeitura do Rio pediu no dia 4 de dezembro de 2020 o financiamento do Ministério da Saúde de 20 leitos de UTI no Hospital de Campanha do Riocentro, além de outros 167 leitos com suporte ventilatório na unidade. O valor mensal pedido pelo município era de R $ 9,3 milhões.
Um mês depois, porém, o Ministério respondeu ao ofício, já para uma nova gestão, em que nega o cofinanciamento dos leitos. Segundo o documento, o parecer técnico da pasta diz que “a implantação de unidades de saúde temporárias (Hospitais de Campanha) deve ser pensada como estratégia complementar à rede assistencial já existente”. O Ministério também informou que já havia destinado R $ 1,6 bilhão ao Rio para o enfrentamento à Covid-19.
O GLOBO apurou que durante o ano de 2020, uma prefeitura até planejou abrir mais leitos na unidade, mas por falta de recursos, não conseguiu contratar mais profissionais para tentar abrir mais vagas. Durante o ano, cerca de 100 médicos foram transferidos de outras unidades para o Riocentro na tentativa de suprir a demanda médica.
Sem profissionais suficientes ou dinheiro para contratar, O GLOBO apresentado, no fim de novembro de 2020, um email em que uma funcionária do hospital pede para que não transfiram mais pacientes graves já que o CTI estava com 67 pacientes, a lotação máxima, mesmo com a abertura de outros 12 em leitos.
“Reforcem com suas lideranças e plantonistas quanto ao preenchimento adequado dos laudos dos pacientes SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) para remoção. Estamos com pacientes regulados como enfermaria que chegam ao Hospital de Campanha com quadro clínico de UTI. Já abrimos mais 23 leitos de UTI na unidade e não temos, nesse momento, como abrir nenhum leitos local de terapia intensiva ”, dizia a mensagem.
Leito no Riocentro custava 3 vezes mais que em hospitais da rede
Para construir uma unidade no Riocentro, uma prefeitura do Rio estendeu em um ano a concessão com a empresa que administra o local. Segundo o relatório, o custo anual de manutenção era de R $ 370,2 milhões, três vezes mais que os hospitais Lourenço Jorge, Miguel Couto e Souza Aguiar.
Apesar de ter sido anunciado com 500 leitos, os técnicos da prefeitura afirmam nenhum relatório que o Riocentro nunca pronunciado mais que 165 pacientes, número registrado no dia 23 de maio. Com uma ocupação média mensal de 30% dos leitos, cada internação custou aos cofres públicos R $ 121 mil. A auditoria aponta, que, nos outros grandes hospitais da rede, o valor não passa de R $ 20 mil.
Custo por internação em 2020
- Lourenço Jorge – R $ 8.362,40
- Miguel Couto – R $ 13.229,35
- Salgado Filho – R $ 18.019,29
- Souza Aguiar – R $ 20.378,24
- Rio Centro – R $ 120.931,52
Em junho de 2020, cerca de dois meses após a abertura do Hospital de Campanha da Prefeitura do Rio, o Ministério da Saúde editou uma porta em que critérios os critérios técnicos para a montagem de unidades temporárias. Porém, segundo a auditoria, “não foi localizado o estudo técnico da secretaria de Saúde que justificaria tecnicamente a abertura do Hospital de Campanha, o que indica a inobservância da norma citada e dos princípios da Administração Pública na construção do HCAMP Riocentro”.
“Com base neste, comprova-se que o HCAMP Riocentro, em termos de recursos financeiros, é mais oneroso ao relatório quando comparado a outras estruturas municipais de saúde já existentes, sem considerar os jurídicos, organizacionais ou assistenciais que influenciam na dinâmica e capacidade de resposta que uma unidade foi capaz de contribuir com uma rede assistencial ”, diz trecho do documento.
Com informações do O Globo
Foto: Prefeitura do Rio