As investigações da operação Águia na Cabeça que levaram às prisões dos delegados Allan Turnowski, ex-secretário estadual de Polícia Civil, e Maurício Demétrio, revelaram a tentativa de forjar um flagrante por corrupção contra o prefeito do Rio, Eduardo Paes, quando ele disputava o segundo turno das eleições municipais, em 23 de novembro de 2020. Demétrio, segundo o Grupo de Atuação Especializada em Crime Organizado do Ministério Público do Rio de Janeiro (Gaeco/MPRJ), tentou armar um flagrante de entrega de dinheiro ao candidato, usando um aliado para acionar a Polícia Federal. A ideia, de acordo com as investigações, era prender Paes.
O prefeito Eduardo Paes (PSB), ao tomar conhecimento das tentativas de flagrante forjado contra ele, disse que os casos não podem ser tratados isoladamente e que cabe ao governador Cláudio Castro (PL) se pronunciar sobre o episódio, para esclarecer a relação com os envolvidos e demonstrar que “não tem nada com isso”. Paes, deu uma pausa no momento de confraternização e comentou as investigações e recentes prisões envolvendo o governo do estado.
— Tá na hora do governador parar de querer parecer o bonzinho né? Tem um conjunto de coisas acontecendo desde o governo Witzel… isso é uma máfia e está na hora do governador tomar alguma atitude ou então ele está mostrando que é líder desse negócio — disse o prefeito.
Em nota, o governador Cláudio Castro ressalta que “sua experiência com Allan Turnowski está descrita nos números positivos alcançados na segurança pública enquanto o ex-secretário esteve no comando da Polícia Civil. Prova disso é que o Estado do Rio de Janeiro registra os menores índices de homicídios dos últimos 30 anos e vem, mês a mês, apresentando quedas dos principais indicadores criminais, que refletem em mais segurança para a população”.
Mais tarde, também no Rock in Rio, o governador Cláudio Castro, acompanhado da esposa e do filho na área VIP do festival, repercutiu as falas de Eduardo Paes.
— Eu entendo a revolta do prefeito Eduardo Paes, acho que ele está tomado pela emoção das notícias, é dia de Rock in Rio… eu duvido que ele realmente pense isso. Ele sabe muito bem que não estou envolvido em nada e além de tudo tem que esperar as investigações. Nem toda denúncia é verdadeira — afirmou.
Sobre a prisão recente do ex-secretário de Polícia Civil Allan Turnowski, Castro disse que está nas mãos do ministério público e que nada do que está se falando sobre o caso tem relação com o Governo.
Dados obtidos pela quebra de sigilo de 12 aparelhos celulares, apreendidos com Demétrio no ano passado, também comprovaram o planejamento de alguma medida investigativa em março do ano passado, novamente para atingir Eduardo Paes, que naquela ocasião estava cotado para disputar a sucessão do governador Cláudio Castro (PL), em chapa com o ex-presidente da OAB, Felipe Santa Cruz.
No segundo episódio, de acordo com a denúncia do MPRJ contra os dois delegados, Demétrio cogitou, em conversa com Turnowski, então secretário de Polícia Civil, atingir Paes com o uso de um inquérito em andamento na 5ª DP (Mem de Sá). Turnowski respondeu que deveriam aguardar o inquérito avançar, mas que iria “olhar”. Nesse momento da conversa, Demétrio sugeriu “Decon”, a Delegacia do Consumidor, unidade especializada para a qual fora designado no mesmo período.
Na denúncia da Águia da Cabeça, o Gaeco classifica de “ato gravíssimo” a tentativa de atribuir a Paes o recebimento de uma quantia de caixa dois, cujo valor não chegou a ser apurado pelos investigadores. Para convencer delegados federais a montar uma operação contra o então candidato, um preposto de Demétrio, identificado na denúncia como o advogado Thalles Wildhagen Camargo, chega a encaminhar uma foto do dinheiro à PF. Mais tarde, a investigação apurou que a foto foi feita na casa de Demétrio.
Um dos delegados da PF acionados à época, Victor Cesar Carvalho dos Santos, em depoimento ao MP-RJ, disse que a Polícia cogitou fazer uma operação contra Eduardo Paes, mas não chegou a sair da base porque considerou as provas insuficientes. Mais tarde, ao descobrir que Demétrio estava na origem da denúncia, desistiu de vez de apurar o caso, em decorrência da falta de credibilidade do delegado estadual.
De Benfica para Niterói
Demétrio, pela investigação, chegou a mobilizar os policiais civis para fazer vigilância em Eduardo Paes e sua comitiva, de modo a obter imagens do veículo utilizado por ele naquela data. Na época, o delegado enviou uma mensagem para Thalles pelo aplicativo WhatsApp, que revelou a imagem de dinheiro. Era saco contendo as cédulas que planejava apreender com Eduardo Paes.
Ontem, na audiência de custódia, realizada na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, o juiz Rafael de Almeida Rezende manteve a prisão de Turnowski. Ele está preso na Cadeia Pública Constantino Cokotós, em Niterói, destinada a policiais civis.
Em nota, a defesa do delegado Allan Turnowski esclarece que: ” a decisão pela prisão é baseada em em diálogos de terceiros, incompletos, fora de contexto e gravados em 2016, época em que Allan Turnowski sequer exercia cargos na Polícia Civil, pois estava cedido à Cedae. Portanto a defesa considera que a decisão não tem elementos suficientes para essa acusação”.
Paes cobra posicionamento de Castro sobre o caso
Embora os fatos citados na denúncia tenham ocorrido em 2020 e 2021, Paes desconfia que os mesmos personagens agiram em 2018, quando perdeu as eleições estaduais para Wilson Witzel.
O prefeito disse que levou o caso ao conhecimento do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em evento na última quinta-feira, e estuda com advogados eventuais medidas contra os responsáveis pelo crime. No mesmo evento, disse ele, cobrou esclarecimentos ao governador Cláudio Castro:
— Não é aceitável que agentes públicos sejam usados em tentativas criminosas de me enfraquecer politicamente. Em 2018, um dos beneficiados desse esquema nefasto foi o atual governador do Rio, Cláudio Castro, que era vice na chapa de Witzel. E não adianta dizer que não sabia. As outras tentativas, mostradas pela investigação, aconteceram no governo dele. Ele tem de provar que nada tem com isso.
Paes disse que, na conversa com Cláudio Castro na quinta-feira, disse “com todas as letras” que os agentes públicos envolvidos nos flagrantes forjados têm ligações com milícias no Rio. Ele garantiu que forneceu nomes ao governador:
— Ele (governador) precisa demonstrar que não faz parte do esquema criminoso. Ele é o chefe do Poder Executivo, de onde saíram os agentes públicos que tentaram inviabilizar a minha candidatura. Ao mesmo tempo, as investigações devem prosseguir para identificar a cadeia de comando relacionada aos dois episódios.
Confira a íntegra da nota do governador Cláudio Castro:
“O governador Cláudio Castro ressalta que sua experiência com Allan Turnowski está descrita nos números positivos alcançados na segurança pública enquanto o ex-secretário esteve no comando da Polícia Civil. Prova disso é que o Estado do Rio de Janeiro registra os menores índices de homicídios dos últimos 30 anos e vem, mês a mês, apresentando quedas dos principais indicadores criminais, que refletem em mais segurança para a população.
Na gestão de Turnowski, foram investigados e solicitadas as prisões das principais lideranças do jogo do bicho, como Rogério Andrade, Bernardo Bello e José Escafura, o Piruinha, entre outros. Além disso, cerca de 1.300 milicianos foram presos pela força-tarefa de combate às milícias, criada por Turnowski por determinação do governador.
Castro defende cautela em relação a juízos de valores com base em trechos de conversas destacadas do processo antes do desfecho das investigações e do julgamento pela Justiça.
Sobre as de declarações do prefeito Eduardo Paes, Cláudio Castro destaca que, apesar da atuação em lados opostos na política, preza por uma relação de cordialidade, diálogo e respeito, jamais corroborando com qualquer prática que atentasse contra sua moral. Ele, porém, enfatiza que a responsabilidade por esclarecimentos sobre o caso cabem exclusivamente a Justiça”.
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