A Prefeitura do Rio anunciou nesta terça-feira (29/10) o projeto vencedor do concurso para o Centro Cultural Rio-África, que será construído próximo ao Cais do Valongo, na região conhecida como Pequena África, na Região Portuária da cidade. A iniciativa, realizada em conjunto entre a Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar) e o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), recebeu 36 inscrições de profissionais de todo o país. A ação também tem apoio da Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial, órgão ligado à Casa Civil.
O projeto vencedor é assinado pelo arquiteto Marcus Vinicius Damon Martins De Souza Rodrigues, do Estúdio Modulo De Arquitetura e Urbanismo, de São Paulo. Além disso, o IAB-RJ também anunciou as demais colocações e emitiu menções honrosas a quatro projetos do Rio de Janeiro, um da Bahia e outro de São Paulo.
– A gente precisa contar a história do que aconteceu aqui. É o povo africano que construiu com seu esforço, suor e trabalho escravizado a nossa identidade, a nossa cultura, a nossa arquitetura. Que construiu essa civilização carioca, a civilização brasileira. É preciso ser antirracista. Para resgatar essa dívida histórica com o povo negro – afirmou o prefeito Eduardo Paes, lembrando que o Brasil é um país preconceituoso na sua historiografia oficial.
O julgamento dos projetos foi realizado nos dias 17 e 18 de outubro e contou com uma banca de jurados composta por arquitetos do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Cabo Verde. Foram recebidas 36 inscrições, com 30 propostas homologadas. O concurso foi direcionado a arquitetos negros brasileiro e africanos de língua portuguesa, com o objetivo de encontrar a melhor solução técnica para a criação do Centro Cultural.
Autor do projeto vencedor, o arquiteto Marcus Vinicius Damon ressaltou a importância do tema da ancestralidade africana na criação do seu trabalho. E detalhou como foi o processo de criação que o conduziu à vitória.
– É uma arquitetura que tem um resultado como o Brasil, um pouco mestiço. Esse simbolismo acontece de formas sutis e às vezes muito explícitas, como as espadas de São Jorge na entrada do Centro Cultural e a fachada que remete às tramas africanas. A gente buscou relacionar as diversas Áfricas e esses diversos simbolismos estão presentes no edifício – contou Damon.
O Centro Cultural Rio-África busca criar um espaço dedicado à ancestralidade afro-diaspórica, promovendo exposições, mostras e programas educativos que mostrem ao público a história e a cultura da região de forma sensível e crítica. Ao todo, os três primeiros colocados receberão R$ 105 mil, dos quais R$ 60 mil serão destinados ao primeiro lugar, que será contratado para o desenvolvimento completo do projeto.
Coordenador de Promoção da Igualdade Racial, órgão ligado à Casa Civil, Yago Feitosa, explicou que o centro cultural também terá um olhar no futuro. Principalmente, porque o espaço vai dar condições para o desenvolvimento de talentos.
– O Centro Rio-África é um espaço expositivo de apresentações artísticas para desenvolver talentos negros. A África civilizou o Brasil. Isso é o mais importante que temos para dizer com relação à criação do centro cultural – afirmou Feitosa.
Para a presidente do IAB-RJ, Marcela Ablas, o concurso promovido pela Prefeitura do Rio foi um grande sucesso. Ela exaltou o elevado número de inscrições e a diversidade de arquitetos negros e africanos.
– Foram projetos de todo o País, de vários estados, e também de Cabo Verde, um país africano. É muito importante, inovador e ousado – disse a presidente do IAB-RJ.
A cerimônia contou com a presença de figuras de destaque do movimento de luta contra o racismo, como a escritora Conceição Evaristo, a atriz e cantora Elisa Lucinda, a diretora da Casa de Tia Ciata, Grace Moreira, os vereadores Tainá de Paula (PT) e Edson Santos (PT), além do secretário da Casa Civil e vice-prefeito eleito, Eduardo Cavaliere, além do subprefeito do Centro, Alberto Szafran.